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EPISÓDIOS DA HISTÓRIA

Em 29 de Novembro de 1947 as Nações Unidas decidiram, por votação da maioria, a divisão da Palestina para a criação de dois estados: um judeu e um árabe. Os árabes recusaram a oferta, os judeus aceitaram-na. Há quase 2000 anos que esperavam pelo regresso a Eretz Israel.


O renascimento de Israel: 14 de maio de 1948

Os árabes ao recusarem o direito de se instalarem na Palestina aos sobreviventes dos campos de concentração hitlerianos, tinham levado o mundo a apoiar a criação de um estado judeu. (Lapierre e Collins, Oh Jerusalém, p. 99)

Às 17 horas da tarde de 14 de Maio de 1948, no átrio principal do Museu de Telavive, teve lugar a cerimónia de inauguração do Estado de Israel. A iniciar a cerimónia, cantou-se o hino judaico “Hatikvah”. Momentos depois, David Ben-Gurion, na qualidade de primeiro-ministro e ministro da Defesa do recém-criado Governo Provisório, assinou a Declaração de Independência de Israel. (…) “Durante dois mil anos, o renascimento do Estado judaico na Palestina fora a paixão e o sonho de um povo disperso pelo mundo” escreveu Walter Eytan dez anos depois. A decisão de declarar independência, observou, “coube apenas a Israel. A coragem para a tomar cresceu a partir da angústia acumulada ao longo desses dois mil anos. O debate que continuava a decorrer nas Nações Unidas bem poderia ter sido uma disputa metafísica, a avaliar pelo efeito que produziu nos acontecimentos em Telavive. (Martin Gilbert, História de Israel, p. 216)


Uma declaração de independência

A declaração começava com a descrição da Terra de Israel, como o berço do povo judeu, e recordava o passado distante da terra. “Aqui [o povo judeu] formou a sua identidade espiritual, religiosa e política. Aqui constituiu pela primeira vez um Estado, criou valores culturais com significado nacional e universal e deu ao mundo o eterno Livro dos Livros.” Tinha “conservado a fé” na terra durante todos os anos de dispersão, “e nunca deixou de orar e de esperar pelo momento em que a ela regressaria, para aí restaurar a sua liberdade política.”

A Declaração de Independência prosseguia com a garantia de que Israel teria as suas portas abertas à imigração judaica e à “reunião dos exilados”. Encorajaria o desenvolvimento do país “para benefício de todos os seus habitantes”. Assentaria nos ideais de “liberdade, justiça e paz, conforme previsto pelos profetas de Israel”. Asseguraria “completa igualdade de direitos sociais e políticos a todos os seus habitantes, independentemente da sua religião, raça ou sexo” e garantiria liberdade de religião, consciência, expressão, educação e cultura. Seria fiel à Carta das Nações Unidas (organização de que não era ainda, naturalmente membro).

A declaração apelava igualmente aos árabes de Israel (cujas fronteiras não estavam definidas em parte alguma) para que “preservassem a paz e participassem na construção do Estado com base na cidadania plena e igualitária” e com a “devida representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes”. Quanto aos vizinhos árabes de Israel, o novo Estado estendia-lhes, bem como aos seus povos, “uma oferta de paz e boa vizinhança”, pois encontrava-se “preparado para cumprir a sua parte no esforço comum pelo desenvolvimento de todo o Médio Oriente”.

A declaração terminava com um apelo ao povo judeu “de toda a Diáspora para que se unisse aos judeus da Terra de Israel nas tarefas de imigração e da construção, e que os apoiasse na grande luta pela concretização do sonho de sempre – a redenção de Israel”. (Martin Gilbert, História de Israel, p. 216-7)


Uma nação capaz de morrer à nascença?

As paredes estavam cobertas com mapas e duas velas colocadas nas extremidades de uma simples secretária de madeira iluminavam a sala. David Ben Gurion, as madeixas brancas da sua cabeleira brilhando à luz das chamas, observava o grupo de homens à sua vota. Este encontro secreto tinha lugar num liceu judeu situado nos arredores de Jerusalém. Ben Gurion reunira os chefes da Haganah da cidade porque estava convencido de que era aqui, nesta mesma cidade, que os judeus da Palestina iriam afrontar a sua maior provação durante os próximos meses. Jerusalém, assim isolada, dependendo para a sua sobrevivência de uma só estrada, a qual já se encontrava ameaçada, era o calcanhar de Aquiles da comunidade judia e a única colónia onde bastava um golpe decisivo para arrasar todas as esperanças de Ben Gurion. Se os árabes conseguirem estrangular Jerusalém – declarou – não terão mais nada a fazer senão acabar connosco, e a nossa nação morrerá antes de ter nascido. (Lapierre e Collins, Oh Jerusalém, p. 98)


Amizades e vizinhanças antigas entre judeus e árabes

Foi nesta Cidade Velha que as relações entre árabes e judeus tinham sido as melhores. A maior parte das construções do bairro judeu pertenciam a árabes e um dos espetáculos mais vulgares era a volta do cobrador árabe das rendas, parando em frente de todas as casas para receber o devido e beber a chávena de café ritual. Jovens árabes iam a casa dos judeus na sexta-feira à noite para acender, em vez deles, as lâmpadas de óleo, que um judeu não podia tocar durante o shabat. Numerosos judeus e árabes ainda se lembram dos presentes que as comunidades trocavam tradicionalmente entre elas pela altura das festas. Durante a soukkoth, a festa das “cabanas” (ou dos tabernáculos), os judeus ofereciam pratos de amêndoa moída aos seus vizinhos, e os árabes traziam aos judeus oferendas de pão e mel para celebrar o fim da Páscoa. (Lapierre e Collins, Oh Jerusalém, p. 113)

A capitulação da alma!

A 28 de Maio (1948), Yitzhak Rabin subiu ao monte Sião, em Jerusalém, onde, escreveria mais tarde, “testemunhei uma cena devastadora. Do bairro judaico surgia uma delegação com bandeiras brancas. Constatei horrorizado, que eram rabinos e outros habitantes que se dirigiam para a Legião Árabe, para saberem os termos da sua capitulação. Nessa noite o Bairro Judeu rendeu-se à Legião Árabe.” A perda do bairro foi um duro golpe para os Israelitas, tanto do ponto de vista militar como moral. Juntamente com o Muro das Lamentações, mesmo abaixo da cidade, o bairro representava o centro espiritual da Jerusalém judaica, com as suas muitas sinagogas e casas de oração.” (Martin Gilbert, História de Israel, p. 228)


Gentios solidários com o novo Estado judaico

Uma vaga de voluntários, como Boris Bressloff, começara a vir do estrangeiro para Israel, homens e mulheres que deixaram o trabalho e as famílias para serem úteis no campo de batalha. Muitos deles tinham experiência adquirida durante a Segunda Guerra Mundial: como engenheiros, encarregados de sinalização, artilheiros, peritos em corpos blindados, médicos e enfermeiros, soldados de infantaria, marinheiros e pilotos. Alguns deles eram cristãos que não queriam ver o Estado judaico destruído. Esses voluntários davam pelo nome de Mahal, o acrónimo para “voluntários do estrangeiro”. (Martin Gilbert, História de Israel, p. 231)


Jerusalém dividida por arame farpado, como nos guetos europeus

Chaim Herzog, que viria mais tarde a comandar o distrito de Jerusalém, escreveu nas suas memórias: “No centro da cidade, esta separação foi evidenciada por um muro de pedra destinado a impedir disparos furtivos. Na terra de ninguém, a separação era feita por um emaranhado de arame farpado, campos de minas e obstáculos improvisados. (…) A terra de ninguém que ficava no meio converteu-se numa massa de arame, lixo e animais em decomposição que tinham sido mortos pelas minas. Nada podia ser reconstruído ao longo da linha da frente – era, simplesmente, demasiado perigoso. (Martin Gilbert, História de Israel, p. 274)


Resistir até ao fim: o caso de Beit Ha-Arava

“Várias dezenas de colonatos foram destruídos pela Guerra da Independência. Um deles, Beit Ha-Arava, na costa norte do mar Morto, resistira, embora completamente isolado, durante seis meses.” (Martin Gilbert, História de Israel, p. 282)


Como uma mola gigante comprimida

“Doze anos após o fim da Guerra da Independência, Yigael Yadin refletiu sobre as razões da vitória. “Se quisermos resumir todos os diferentes fatores, e são muitos, que permitiram a vitória”, escreveu, “não hesitaria em mencionar as extraordinárias qualidades da juventude de Israel, reveladas durante a Guerra da Independência. É como se essa juventude tivesse absorvido em si mesma o desejo, em toda a sua dimensão, de Israel, ao longo de milhares de anos de exílio, de regressar ao seu solo e de viver em liberdade e independência, e, como uma mola gigante comprimida e mantida durante muito tempo no limite da sua capacidade de compressão, quando finalmente a desprenderam – libertou-se.” (Martin Gilbert, História de Israel, p. 283)


A primeira sessão parlamentar em Jerusalém

Weizmann foi eleito presidente por 83 votos contra 15 no final da sessão, o presidente da assembleia declarou: “Encerro, deste modo, a nossa sessão em Jerusalém, onde realizámos o sonho de gerações, um sonho que não morreu, apesar do sofrimento, da expulsão, da tortura e dos autos-de-fé.” (14.02.1949, primeira sessão do Knesset, parlamento) (Martin Gilbert, História de Israel, p. 286)


E os judeus regressavam finalmente a casa, como os profetas predisseram…

“Semanas após o estabelecimento do Estado de Israel, chegavam ao país números elevadíssimos de imigrantes judeus, todos os dias, um fluxo regular, crescente e poderoso (…) Entre 15 de Maio de 1947 e 31 de Dezembro de 1951, havia chegado a Israel, sobretudo por mar, um total de 686 739 judeus. Vinham de 70 países diferentes.” Martin Gilbert, História de Israel, p. 291

Do Iémen, “mais de 45.000 pessoas, se pôs a caminho de Israel”. Esta operação foi designada “Tapete Mágico”: como o Egipto fechara o canal de Suez às embarcações israelitas, em alternativa, Israel montou uma ponte aérea. (…) “Por vezes, ia a Lydda”, recordou Golda Meir, “e via os aviões de Ádem aterrarem, e maravilhava-me a resistência e a fé dos seus passageiros exaustos. “Já alguma vez tinha visto um avião?”, perguntei a um velhote de barbas. “Não”, respondeu. “Mas não teve medo de voar?”, insisti. “Não”, repetiu com muita firmeza. “Está tudo escrito na Bíblia, em Isaías, subirão com asas como águias”. E, no meio do aeroporto, recitou-me todo esse passo, o rosto iluminado com a alegria de uma profecia cumprida - e do fim da viagem.” No excerto que o velhote recitara, do capítulo 40 de Isaías, pode ler-se: Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fadiga? Não há esquadrinhação do seu entendimento. Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias: correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão. (Martin Gilbert, História de Israel, p. 295)


A estrada dos sacrifícios, vital para Jerusalém!

O oficial judeu Shalom Dror recebeu a notícia mais maravilhosa da sua vida pelo rádio da sua autometralhadora, bloqueada numa emboscada. Os seus pais, que ele não voltara a ver desde 1939, acabavam de desembarcar dum barco clandestino em Haifa. Dror tinha lutado durante anos para os libertar dos campos de morte de Hitler e para conseguir que eles viessem para a Palestina. Que ironia, pensou; chegavam à Terra Prometida nesta manhã de março e não podia recebê-los no solo desta pátria que ele tinham ensinado a amar. Dror tinha a certeza de que não escaparia vivo do combate desesperado que se travava em volta da sua autometralhadora. Este combate era um episódio da batalha que dominava toda a existência da Jerusalém judaica – a batalha pela conquista da estrada. O preço que o Haganah tinha de pagar para que os seus comboios de transporte chegassem a Jerusalém era cada vez mais exorbitante. O abastecimento chegava às migalhas. Um espectro pairava sobre a cidade judaica – a fome. (Lapierre e Collins, Oh Jerusalém, p. 230)


A terra sonhada que afinal existe

“Tinha visto o meu sonho tornar-se realidade – o Estado judaico existia. Agora, o sonho que tinha para os meus filhos e os meus netos era que vivessem nesse Estado livres dos conflitos, do ódio e do sofrimento que a minha geração conhecera” (Chaim Herzog, 1949 in Martin Gilbert, História de Israel, p. 300)


Empreendedorismo judaico admirado por árabes

“Quando assistia a uma cerimónia em memória de E-Solh na Mesquita Al-Aqsa, a 20 de Julho de 1951, o rei Abdullah da Jordânia foi assassinado por um palestiniano. Os extremistas palestinianos acusavam o rei de querer chegar a um acordo amigável com Israel. Na sua biografia, publicada em 1946, o rei escrevera: “Fiquei impressionado com o que vi nos colonatos judaicos. Eles colonizavam as dunas de areia, tiraram água delas e transformaram-nas num paraíso.” Numa declaração mais recente, que enfurecera muitos Palestinianos, o rei dissera que os judeus tinham direito aos seus Lugares Sagrados na Cidade Velha. Esses direitos encontravam-se explícitos nos Acordos de Armistício de 1949. Nunca foram honrados, à exceção do acesso quinzenal dos veículos israelitas ao enclave do monte de Scopus.” (Martin Gilbert, História de Israel, p. 310)

A imigração em massa, disse Ben-Gurion, “não originaria desemprego, porque os imigrantes trouxeram consigo as suas capacidades criativas.” O ministro das finanças de Ben-Gurion, Levi Eshkol diria que “cada imigrante trazia na mala empregos para outros dois imigrantes”. (Martin Gilbert, História de Israel, p. 310)

Ben Gurion assim como conduzira o combate do seu povo para a independência, presidiu À transformação do estado numa entidade económica viável. (Lapierre e Collins, Oh Jerusalém, p. 577)

Jerusalém é a capital de Israel

O Governo de Israel, em 1949, fez de Jerusalém a capital, contra a vontade das Nações Unidas e dos Estados Unidos, que ainda tinham esperanças de dar à cidade um estatuto internacional. As pedras antigas do Muro das Lamentações apenas viam passar agora alguns turistas ou crianças árabes que vinham ali brincar. As ruínas do bairro judeu, despojadas de qualquer objeto de valor, estendiam-se ao sol como um cemitério profanado, prova evidente para os árabes da partida definitiva dos judeus, de quem tinham sido vizinhos durante tantos séculos.


Jerusalém unificada finalmente para se tornar a casa de todos

Em Junho de 1967, Israel entrou em guerra com a Jordânia depois de ter, por duas vezes, pedido ao rei Hussein que não bombardeasse a nova Jerusalém. Os para-quedistas de Uzi Narkis ocuparam a Cidade Velha após quarenta e oito horas de combate. Uma multidão comovida precipitou-se, no rasto desta vitória, em direção ao Muro. Para-quedistas, velhos rabinos em êxtase, ministros, mulheres e crianças de todos os bairros da Cidade Nova misturaram-se numa unânime oração de ação de graças. Foi um momento de emoção em que o povo antigo redescobriu o lugar mais sagrado da sua história. Entre as primeiras pessoas a contemplar as pedras encontravam-se os dois homens que, em 1948, tinham pensado conquistá-las, Dov Joseph e David Shaltiel. Os primeiros dias que se seguiram à guerra de Junho de 1967 foram testemunhas de extraordinárias cenas de confraternização. Árabes e judeus renovavam velhas amizades e reencontravam os lugares, os ruídos, os odores e o cenário da sua antiga vida em comum. As fortificações e as trincheiras foram desmanteladas durante breves horas, o arame farpado arrancado e a cidade reunificada (…) mas ainda existe uma fronteira no coração dos seus habitantes. (Lapierre e Collins, Oh Jerusalém, p. 579)


As lágrimas de séculos queriam brotar

“O monte das Oliveiras fora tomado e o general Motta Gur ordenara a entrada na Cidade Velha. Ao final da manhã de 7 de Junho, Gur comunicou que os seus soldados passaram a Porta dos Leões e se aproximavam da Cúpula da Rocha. Dayan e Rabin voaram de Telavive para Jerusalém e apressaram-se a chegar ao Muro das Lamentações (a que os Israelitas se referiam habitualmente como Muro Ocidental – da área delimitada do Templo antigo). “Quando chegámos ao Muro Ocidental, eu estava sem fôlego”, escreveu Rabin mais tarde. “Parecia que as lágrimas de séculos queriam brotar dos homens reunidos naquela rua estreita, enquanto todas as esperanças de gerações proclamavam: “Não é tempo de chorar! É um momento de redenção, de esperança.” (Martin Gilbert, História de Israel, p. 430)

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